Outras ribeiras de montanha
Não muito longe da cabeceira da Ribeira de São Domingos localiza-se a nascente da Ribeira da Lapa (no mapa designada como Ribeira da Aldeia): as duas bacias hidrográficas estão separadas por uma cordilheira encimada pelo Picoto, com 1330m de altitude, apenas se fundindo mais abaixo, a 572m de altitude. Já no sopé da montanha entram no Corges, este no Zêzere e, por fim em Constança, no rio Tejo.
Sendo a água fonte de vida (para beber, para regar, força motriz de moinhos e fábricas…), as povoações começaram por se desenvolver em redor de linhas de água. Na Serra da Estrela ainda hoje subsistem várias aldeias ribeirinhas, embora muitos receiem pelo seu desaparecimento. Estas aldeias debatem-se com uma aparente desvalorização das linhas de água: o abastecimento de água canalizada e tratada vai-se estendendo a todos os lugares habitados, a energia fóssil é mais eficiente, é mais económico assumir um trabalho no sector terciário e adquirir produtos alimentares produzidos em massa, logo, mais baratos, etc. E, porém… a água continua a ser essencial à vida.
Ribeira São Domingos.
As ribeiras são habitualmente afluentes de rios: contribuem para a quantidade e qualidade das massas de água que abastecem os grandes centros urbanos. O maciço montanhoso da Serra da Estrela tem, na verdade, uma importância singular. A sua dimensão, altitude e posicionamento geográfico, fazem dele, através dos rios Zêzere, Mondego e Alva, a maior bacia hídrica de armazenamento e principal fornecedor de água do país, dando de beber a cerca de 40% da sua população. Também a agricultura de montanha tem um papel que ultrapassa a produção de alimentos: ela serve para fixar população… e solo. O seu valor económico será reabilitado quando forem devidamente valorizados os serviços de ecossistema: a qualidade do ar e da água e do solo, a paisagem. Claro, uma introdução de novas práticas agrícolas em explorações tradicionais será essencial para melhorar a qualidade de vida dos agricultores: pequenas estufas, rega-gota-a-gota, etc
Agricultura.
Acresce que a subida de temperatura que já começa a verificar-se irá favorecer a produção em altitude. Também a qualidade da água de rega em agricultura de montanha versus a água, amiúde contaminada, dos vales com agricultura intensiva será valorizada. Acresce que as alterações climáticas começam a inverter muitos dos paradigmas em que assenta a actual produção agrícola intensiva. Por exemplo, o aumento da frequência de fenómenos climatológicos extremos aumenta a frequência de destruição de produções agrícolas. Nestas condições a diversidade de produção pode vir a adquirir vantagem sobre a monocultura intensiva: por exemplo, se diferentes variedades de fruteiras florirem em épocas distintas, uma geada fora de época não comprometerá todas as árvores, sendo esta a situação habitual em explorações de montanha. E, claro, explorações diversificadas fazem florescer os mercados de proximidade, uma opção dos consumidores informados que está em crescendo.
Entretanto, as magníficas paisagens das aldeias ribeirinhas de montanha são já um sucesso de turismo.